Capítulo 6 – Beija eu, me beija
Sessões de cinema tornaram-se emblemáticas para Pedro e Lucas. Afinal, foi no cinema que se encontraram pela primeira vez, e iniciaram sua história juntos. A tela grande é companhia recorrente de seus momentos juntos, prolongados por um café, um almoço, um jantar, uma caminhada pela avenida Paulista, o lugar mais democrático e onde todos se sentem mais à vontade para serem quem são, ao menos, na maior parte do tempo.
– Eu já te falei que eu amo este lugar? – perguntou Pedro.
– Só hoje ou na contagem de todos os outros dias que estamos juntos? – gracejou Lucas.
– Bobo! É que sei lá, me faz bem caminhar por aqui, sentir a cidade acontecendo.
– É bonito mesmo! Ainda mais estando juntos. O cenário perfeito!
– Por minha causa, claro.
– Por sua causa, por minha causa.
– Claro que estar ao lado de um escritor, poeta, deve ser mesmo maravilhoso…
– Convencido!
Lucas deu um empurrão de leve em Pedro, que como costumavam brincar, fez questão de exagerar no movimento e quase trombou com alguns transeuntes.
– Cuidado, amor – disse Lucas, com naturalidade.
Bastou chamar o namorado de amor e sentiu o peso nos olhos de um desconhecido passando ao lado.
Lucas fechou os punhos e segurou-se com o apoio da mão de Lucas em seus ombros.
– Calma. Não será a primeira nem a última vez.
– Infelizmente – ponderou Lucas, entre dentes.
– Eu estou tão feliz só de estarmos aqui.
– Eu também. Mas queria ser livre como qualquer um pode ser.
Eles haviam parado na esquina do MASP.
– Hey, relaxa! Lucas raivoso não combina com você.
Deram um forte abraço e seguiram em direção ao shopping. A sessão começaria pelas dezoito horas e já estavam com seus ingressos salvos no app do celular. Dessa vez um filme de terror, sequência de um dos blockbusters com continuações intermináveis. Alguns sustos e algumas risada, como era de se esperar.
A noite paulistana seguindo em harmonia com aquele friozinho da noite entre os corredores da avenida Paulista, as luzes dos prédios colorindo o cinza tradicional e as pessoas de todas as idades aproveitando um dos melhores, senão o melhor lugar da cidade.
– Eu mais ri que me assustei – comentava Lucas.
– Eu fiz um pouco dos dois. E você acabou com a pipoca.
– Você disse que não queria mais.
– Eu só queria te irritar – riu-se Pedro – mas acho que não consegui.
– Não – e fez careta – Você tem que se esforçar muito pra isso.
– E vamos de…?
– Lanche na padoca.
A famosa padaria da Haddock Lobo aberta vinte e quatro horas foi o destino para o lanche pós cine, conversas sobre as viagens de fim de semana que pretendiam fazer nos próximos meses e o prenúncio de:
– Tenho uma surpresa – seguiu Lucas.
– Uma surpresa? E quando saberei desta surpresa?
– Agora. Ou melhor, lá fora. Só mais uns minutos.
– Já estou curioso.
– Eu sei.
E alguns minutos depois, na esquina com a Paulista:
– Surpresa.
Lucas ajoelhou-se e prosseguiu:
– Aceita um oficial pedido de namoro? – perguntou, apresentando uma aliança.
– Sim! Aceito, claro que aceito. Vem cá, levante-se.
PEDRO
Lucas se apoiou nos meus braços, colocamos as clássicas alianças de compromisso e nos beijamos. Eu esqueci de tudo e de qualquer coisa. Senti como se estivéssemos somente nós dois ali, quando senti Lucas se soltando de meus braços e caindo bem na minha frente.
Uma pedrada na cabeça, sangue, alguns xingamentos…Eu gritei: Covarde! E então o rapaz desconhecido fugiu para perto de seu grupo e sumiram em segundos.
Eu chorei muito, muito. Aos poucos Lucas conseguiu se recompor e partimos para o hospital mais próximo, ao olhar de espanto do motorista de táxi que quase recusou a corrida ao ver meu namorado sangrando e com as roupas um pouco sujas devido
à queda.
Chegamos ao hospital e enquanto eu passava os dados na recepção, Lucas apagou.
(CONTINUA)