Mais uma de amor – Parte 3.6
(…)
Perto das seis horas da tarde, Maurício pediu para o porteiro anunciá-lo pelo interfone e subiu as escadas correndo até o sétimo andar. Seus olhos estavam secos, porém bastou identificar o urso de pelúcia deixado em frente à porta do apartamento de Raissa, para que seus olhos começassem a se lubrificar naturalmente. Tocou duas vezes a campainha e virou-se de costa, receoso em encarar a jovem:
-Maurício, olha pra mim.
-Raissa, só me deixa falar. Eu juro que não vou tomar o tempo que te resta do dia de hoje, está bem?
Raissa tentava disfarçar suas olheiras, deixando os cabelos lhe cobrirem o rosto:
-Fala.
-Lembra que eu te falei de poesia, de inventar poesia…
-Lembro. Lembro, sim.
-Então…Bem, este é meu último presente pra você. Só não ria, por favor.
Maurício tirou o papel que tinha guardado no bolso e começou:
“Eu a tive nos meus braços
Eu tive a sorte de poder beijar sua boca, te sentir de perto
E como se estivesse num grande filme de amor,
Meu coração disparou de verdade
Eu pude beber de ti, o que chamam de amor
Eu te perdi de repente como nas comédias românticas
Mas tive uma chance de voltar atrás, te conquistar
Eu acho que te conquistei, mas te perdi
E então eu pude ver que é normal um homem chorar
Porque quando a gente ama, não importa mais nada
Além de mim e você
Não é só um momento, eu juro
Aceita-me, por favor,
Foi verdade quando falaram que toda carta de amor é ridícula,
Mas mais ridícula é quem não sabe dizer isso: eu te amo”
Não se tratava de uma lírica clássica, com métricas elaboradas, contudo fora a forma mais clara para explicar-se e ainda continuar no jogo.
-Rá, desculpa, Raissa…“Eu te amo”.
-Cara, você pensa que é assim. Você me dá um presente e pronto.
-Diz que não gosta de mim e eu vou embora. Eu não te ligo mais, eu não te procuro. Só não me impede de te amar.
-Você fala sério?
-Raissa, eu te fiz poesia ou tentei.
Entre lágrimas de ambos e corações pulsando em arritmia, beijaram-se. Raissa o deixou entrar e se amaram como um casal de verdade. E não era um amor ideal, não eram personagens de Castelo Branco ou Shakespeare, eram Maurício e Raissa, reais, podendo sentir na pele, na respiração, nos olhares de carinho e até mesmo nas lágrimas, o que era amar e ser amado. Não se perdia o encanto das grandes obras românticas, apenas tentava se encontrar possibilidades reais de afeto.
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-E você conseguiu falar com a Raissa? Saber se está tudo bem?
-Achei melhor não interferir, Tony. Os dois sozinhos já se complicam, entre tapas, beijos.
-Disse bem, se complicam. Mas acho que agora o Maurício sossega, fica na boa.
-Seria bom. É seu primo e tal, mas faz cada uma. A Raissa merece um cara bacana.
-Um cara bacana, assim como eu?
-Convencido, hein seu Antônio?
-Você me conhece. E sabe, essa demora em ter notícias é bom sinal.
-Espero. Quem sabe, os dois não se acertam de uma vez ou não, mas ficam felizes.
-É só mais uma de amor – e ria-se.