REVANCHE – 4. Die Lüge

4-Die Lüge

Eis que chega a minha fase de negação. Será? Não, tenho de ser sincero comigo mesmo. Eis que chega minha fase de revolta.

-Mas será possível?!

Um peso de mesa – souvenir de Nova Iorque – estilhaçado no chão do quarto, e duas ou três fissuras na planta do pé após limpar o chão descalço.

Tudo isso por quê?

Por insistir em manter-me atualizado nas redes sociais. Até um chapéu imitando um canguru sai sorrindo na foto do casal. Fora a seqüência do aeroporto à casa nova. Eu odeio a Austrália, ainda que a empresa em que trabalho tenha grandes negócios desenvolvidos por lá. E por isso as bodas, a distância, a minha fase de raiva reconhecida. E fecho o notebook para parar de ler os comentários de todos, tão fofos e agradáveis. Imploro para que explodam, nesse momento, os criadores dos winks, emoticons e familiares graciosos.

E ainda não te vejo feliz. E eu propriamente, não posso interferir nesse processo. Você conseguiu seguir todos os passos de sua programação ante a fila de amigas chamando-lhe linda e comemorando suas alegrias, ainda que posem todas de mulheres realizadas com sua forma não tanto em dia quanto a sua e brindando a solteirice ao mesmo tempo em que quase rasgam seus vestidos tentando segurar o seu buquê. Quem disputa buquê não quer se casar? Certo, talvez elas sejam um pouco, ainda, mais corajosas que eu, que nem das bodas consegui participar.

A questão é que não conseguiria travar minha língua e meus braços e minhas pernas para correrem diante do juiz ou do padre que fosse para acabar com o que neste exato instante chamo de grande palhaçada, comigo desempenhando o papel do bobo. Um bobo, porém que não toma pró-seco e que sangra por rompantes. Não, não passo pela linha tênue entre amor e ódio, pois o que sinto é raiva, e isso não envolve a Tarsila ou ao afetuoso Andrew, tão aclamado pela administração da empresa. Aliás, o casal. E nem pensem em classificar isto como inveja também. Nunca quis ir trabalhar na Austrália.

Tarsila – eu nem sei por que ainda escrevo seu nome em pensamento. Eu só quis que me visse de verdade, não desacreditando minhas sinceras entrelinhas e diretas interpelações por seu amor. Sim, eu falhei, todavia tentei aproveitar as crises curtas e pontuais do exemplo de sucesso. Sucesso, repito. E não felicidade.

Eu nunca quis ser sombra. Eu quis ser luz contigo e você não compreendeu. Ou quis um caminho fácil, planejado, hermético, que eu ainda não soube trilhar – uma mentira.

 

“Um dia desses, acordei

Não conseguia respirar

Enquanto não cuspisse tudo o que eu tinha pra falar

Na sua frente, na sua cara, tudo que eu sei que você é

Que você esconde atrás desse sorriso torto de quem não sabe como é

 

Olhar pra frente e ver

Que não há pra onde ir

E saber que o seu lugar é muito longe daqui

Meu mundo é muito maior

Seu mundo é uma mentira (que você mesmo inventou)” (Lucas Silveira/Rodrigo Tavares)

(Continua)

David Felipe

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